domingo, 4 de julho de 2010

Reflexões pós-eliminação



Passados dois dias da derrota do Brasil para a seleção da Holanda, podemos fazer algumas reflexões a respeito do ocorrido.

Muito já se falou e se escreveu e diferentes opiniões e pontos de vistas foram colocados pelos especialistas do futebol. Claro que não existe apenas uma verdade, mas as verdades, assim como não foi apenas um motivo que levou à eliminação e sim o conjunto da obra.

Ao longo de seus quase quatro anos à frente do comando da seleção, Dunga convocou 87 jogadores, conforme relação abaixo:

Goleiros
Renan (Internacional)
Diego Alves (Almería)
Victor (Grêmio)
Fábio (Cruzeiro)
Gomes (Tottenham)
Hélton (Porto)
Júlio César (Internazionale)
Cássio (Grêmio)
Doni (Roma)

Laterais
Leonardo Moura (Flamengo)
Richarlyson (São Paulo)
Nei (Atlético-PR)
Filipe Luís (La Coruña)
Leonardo (Olympiakos)
Juan (Flamengo)
Adriano (Sevilla)
Carlinhos (Santos)
Kléber (Internacional)
Rafinha (Schalke 04)
André Santos (Fenerbahce)
Michel Bastos (Lyon)
Fábio Aurélio (Liverpool)
Ilsinho (Shakhtar)
Cicinho (Roma)
Maicon (Internazionale)
Marcelo (Real Madrid)
Gilberto (Cruzeiro)
Daniel Alves (Barcelona)

Zagueiros
Alex (Chelsea)
Edmílson (na época no Barcelona)
Juan (Roma)
Alex Silva (São Paulo)
Thiago Silva (Milan)
Miranda (São Paulo)
Breno (Bayern de Munique)
Léo (Grêmio)
Henrique (Palmeiras)
Lúcio (Internazionale)
Luisão (Benfica)
Gladstone (na época no Cruzeiro)
Edu Dracena (na época no Fenerbahce)
Naldo (Werder Bremen)

Meio-Campistas
Charles (Cruzeiro)
Fernandinho (Shakhtar)
Ramires (Benfica)
Alex (Spartak Moscou)
Felipe Melo (Juventus)
Carlos Eduardo (Hoffenheim)
Fábio Simplício (Palermo)
Kleberson (Flamengo)
Ronaldinho Gaúcho (Milan)
Lucas (Liverpool)
Mineiro (Hertha Berlin)
Diego (Juventus)
Fernando (Bordeaux)
Tinga (Borussia Dortmund)
Denílson (Arsenal)
Josué (Wolfsburg)
Zé Roberto (Santos)
Anderson (Manchester United)
Hernanes (São Paulo)
Thiago Neves (Fluminense)
Dudu Cearense (CSKA)
Gilberto Silva (Panathinaikos)
Jônatas (Flamengo)
Wagner (Cruzeiro)
Elano (Galatasaray)
Morais (Vasco)
Julio Baptista (Roma)
Daniel Carvalho (CSKA)
Kaká (Real Madrid)

Atacantes
Diego Tardelli (Atlético-MG)
Hulk (Porto)
Rafael Sobis (Betis)
Ricardo Oliveira (Milan)
Adriano (Flamengo)
Jô (CSKA)
Fred (Lyon)
Robinho (Santos)
Vágner Love (CSKA)
Afonso (Heerenveen)
Luís Fabiano (Sevilla)
Alexandre Pato (Milan)
Bobô (Besiktas)
Pedro Oldoni (Atlético-PR)
Nilmar (Villarreal)
Mancini (Internazionale)

Alguns desses 87 tiveram muitas chances. Outros foram convocados para amistosos e nem sequer entraram em campo e não foram chamados na convocação seguinte. Nestes casos, parece que a única observação feita foi sobre o comportamento desse jogador, pois não se justificaria uma reprovação a seu futebol, visto que o mesmo não foi analisado.

No dia 11 de maio, Dunga apresentou a lista dos 23 que iriam para a África. A partir daqui passo a chamar esse grupo de “Os Amigos de Dunga”.
O treinador argumentou sua escolha colocando como critérios o COMPROMETIMENTO, a COERÊNCIA e a CONVICÇÃO. Os selecionados foram aqueles que demonstraram estar seguindo a cartilha estabelecida pelo treinador.

Diante disso, alguns critérios foram deixados de lado como: atual fase do jogador, qualidade técnica e adaptação a esquemas de jogo, por exemplo.
Nas entrevistas de alguns jogadores, ficou claro que tinham frases prontas para todas as perguntas dos jornalistas. Tudo se resumia em “estar no grupo”, “colaborar e ajudar”.

O termo “servir à pátria” também foi colocado várias vezes, tanto por Dunga quanto por seu grupo de amigos. Neste momento, o grupo se transformava em “guerreiros” – inclusive com um comercial da Brahma reforçando estrategicamente essa idéia – e Dunga era o comandante.

O grupo de amigos foi então colocado em uma redoma. A imprensa não teria mais acesso. Os treinamentos eram escondidos das câmeras, talvez para não ter questionamentos sobre a eficácia e qualidade dos mesmos.
Pouco ou praticamente nada se falou em esquema tático, sistema de jogo ou estudar o adversário.

E o grupo de amigos, agora transformado em “um grupo de soldados”, foi preparado para uma guerra. E o pior: só foi preparado para vencer essa guerra. Dunga falava de um grupo vencedor, que conquistou tudo que disputou (leia-se Copa América – Copa das Confederações e Eliminatórias). Não passava pela cabeça, nem do comandante e nem dos comandados, de que em algum momento poderiam ser derrotados. Ou ao menos que em alguma determinada batalha, eles poderiam ficar em desvantagem.

Vieram então os três primeiros adversários. Coréia do Norte era a estréia, todos nervosos e a batalha foi vencida, mesmo tendo uma baixa, com o gol do adversário ao final da contenda.

Depois veio Costa do Marfim. Os soldados brasileiros foram alertados sobre um dos jogadores adversários que estava ferido e merecia ser vigiado e atacado o tempo todo. Drogba jogou e foi xingado pelo comandante do exército, gratuitamente. Mais uma vitória e a defesa bem armada vacilou e sofreu outra baixa.

Nesse dia, o comandante se sentiu atacado e perseguido até mesmo por quem não era adversário. E resolveu atacar e agredir até mesmo quando a batalha já havia se encerrado.

Posteriormente, amistoso contra os patrícios, menos para o soldado Felipe Melo que desferiu violentos e impiedosos golpes contra os joaquins e manuéis.

O próximo adversário da guerra seria o Chile. Não ofereceu resistência e mais uma batalha foi vencida. A impressão que ficara era de que “nosso exército está impondo o medo e nenhum outro adversário vai ousar nos atacar”.

Mas, eis que surge no caminho um adversário de uniforme laranja, pacatos, dispostos apenas a fazer aquilo que o mundo inteiro queria ver: jogar futebol. E nem precisaram jogar tanto assim. Criaram algumas chances e logo estavam vencendo a batalha, impondo ao exército de azuis o primeiro revés. A autoconfiança deu lugar ao desespero. Olharam para o trono do comandante e o viram xingando e esmurrando a tudo, com raiva nos olhos e nenhuma palavra ou orientação de como seguir e reverter o resultado da batalha que estava sendo perdida.

De repente, um dos soldados exibe ao mundo toda sua ira, pisando covardemente na perna do jogador de laranja. Um soldado a menos em campo e o grupo de amigos agora se sente acuado, sem forças, olhando para baixo, sentindo que a vitória dessa guerra está cada vez mais distante. Um olha para o outro na espera de uma força, mas nada acontece.

E na cabeça dos soldados passam várias interrogações:
Nós poderíamos ser derrotados? Existem outros guerreiros mais fortes do que nós? Nós não fomos treinados durante quatro anos para alcançar esta vitória? Como ousam nos tirar essa glória?

Fim da guerra e a batalha está perdida. Os soldados baixam as cabeças, envergonhados, não sabendo o que está acontecendo. Olham para o comandante, mas este foi o primeiro a fugir da trincheira, deixando seu grupo de amigos totalmente abandonados, sem ao menos estender a mão ou dar um abraço de apoio.
Os soldados retornam e somente pequenos grupos se apresentam para recepcioná-los. Com medo, imaginando outra possível guerra na própria pátria, eles fogem pelas portas dos fundos.

E lá, onde foram realizar a guerra imaginária, a festa do esporte continua. Quatro seleções – e não exércitos – permanecem na disputa pelo título de melhor time do mundo e não de melhor esquadrão de soldados. Vemos uma Alemanha e uma Espanha, jogando futebol ao melhor estilo brasileiro, com muito toque de bola, rapidez e busca incessante do gol.



Penso que os motivos da derrota estão mais do que claros. Precisamos de atletas e grandes jogadores, não de guerreiros. O futebol é um esporte e como tal deve ser tratado. Claro que a entrega em campo deve ser total, com garra e disposição até o último minuto de jogo. Mas isso jamais deverá ser confundido com uma guerra e vontade de destruir o adversário. Quando isso acontece, a criatividade é sufocada e a razão dá lugar para o instinto.

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